A origem dos cultos centrados na reverência e gratidão à Terra, como Mãe, é tão antiga quanto os atos de semear, plantar e colher. Entregar sementes à terra para que elas germinassem, crescessem e frutificassem era um ato sagrado que dependia da benevolência e ajuda das forças sobrenaturais. A personificação da Terra como Deusa é universal, tendo sido cultuada como Mãe por todas as antigas culturas, em parceria, às vezes, com seu consorte o Pai Céu ou com suas Filhas. Mas havia uma dualidade no seu culto, pois além de ser vista como Doadora e Provedora dos alimentos, Ela também era a Destruidora encarregada da dissolução dos resíduos vegetais, animais e humanos.
A dinâmica do mundo era baseada nesta união de princípios opostos – vida/morte – que aconteciam no ventre da Terra, revelando como cada nova forma de vida era criada a partir de uma morte anterior. Além de receber os mortos proporcionando-lhes repouso e cura à espera do renascimento, a Terra também abrigava o mundo subterrâneo, regido por divindades ctônicas e habitado pelos seres ancestrais e sobrenaturais. A profusão de figuras femininas oriundas dos períodos paleolítico e neolítico comprovam a ancestralidade dos cultos de fertilidade centradas em uma Mãe, Avó ou Mulher Terra. As crenças e os rituais eram ligados às irregularidades topográficas como montanhas, grutas,fontes, rios ou à diversidade da vegetação, selvagem ou cultivada. As grutas eram ligadas ao mundo subterrâneo, sendo as aberturas com simbolismo uterino que serviam como locais para rituais e celebrações. As montanhas eram consideradas lugares propícios para a comunicação entre o mundo celeste e o subterrâneo.
A natureza e a origem da Terra eram descritas de forma diversa em vários mitos de criação, geralmente surgindo do vazio, caos ou oceano primordial ou formada do corpo de uma divindade morta. Ela ficava apoiada sobre um animal, como a tartaruga, na tradição indígena norte-americana ou no mito chinês da deusa Nu Kwa, ou sustentada por seres sobrenaturais colocados nas quatro direções cardeais como os gnomos do mito nórdico. Alguns mitos nativos descrevem como diversos animais mergulhavam no oceano primordial, de onde traziam lama ou areia para formar a Terra.
Dependendo da nação o animal era o rato aquático, o castor ou a lontra. Nos mitos dos índios norte-americanos o nascimento da humanidade decorre da união entre a Mãe Terra e o Pai Céu. Em outros mitos os seres humanos aparecem de repente por um buraco na terra -sipapu- ou são formados pelas divindades com lama, barro, galhos e penas.
Os terremotos eram atribuídos à mudança da posição da divindade, dos seres sobrenaturais ou dos animais que sustentavam a Terra – como no mito peruano da Pacha Mama. Para pedir clemência os povos antigos faziam sacrifícios de animais, oravam e batiam tambores. Na antiga China o imperador se prosternava perante cinco montículos de terra representando as quatro direções cardeais e o centro e fazia oferendas para a Terra.
O culto mais difundido entre os índios norte-americanos é da Mãe Terra, seguido pelo da Mãe dos Grãos, que aparecia como uma única divindade - a Mãe, múltipla como Suas filhas, as Donzelas do Milho, ou em forma de Três Irmãs, que simbolizavam os alimentos básicos:milho, feijão, abóbora. As colheitas eram as oportunidades para agradecer com oferendas, festividades, danças e orações. Dependendo da localização geográfica e da natureza da colheita, estas cerimônias se estendiam durante vários meses, com danças típicas em forma de rodas ou espirais, mas envolvendo sempre toda a comunidade. Uma dança muito comum na Europa era a dança do pão, considerado o alimento sagrado usado em rituais, como amuleto de proteção ou para a cura. O pão jamais podia ser desperdiçado ou jogado fora, sendo também usado em sinal de boas vindas ou recepção dos noivos entre os povos eslavos e dos Balcãs. Antes de cortar o pão as camponesas romenas o abençoavam e agradeciam à terra pelo “pão de cada dia”.
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