Tarot~~Espelho da Alma~~

ESPELHO DA ALMA*LINGUAGEM DA LUZ

segunda-feira, 24 de março de 2014

VII. O Carro
O Arcano do Domínio, do Repouso
 
Compilação de 
Constantino K. Riemma
 
 
O Carro no Tarot de Marselha-Kris Hadar
O Carro no Tarô Marselha
Restauro de Kris Hadar
 
Dois cavalos arrastam uma espécie de caixa, montada sobre duas rodas e coberta por um dossel, onde se encontra um homem coroado, que traz um cetro em sua mão direita. Na parte frontal do carro (a única visível), em boa parte dos tarôs clássicos, há um escudo com duas letras, que variam com as editoras das lâminas.
Mais do que citar dois simples cavalos, podemos ressaltar que se tratam de corpos dianteiros fundidos ao carro. Os dois animais olham para a esquerda, mas a sua disposição é tal que parecem andar cada um para o seu lado. O cavalo da esquerda levanta a pata direita, e o da direita, a pata esquerda. O dossel repousa sobre quatro colunas.
O homem, que tem uma coroa do tipo das de marquês, tem a mão esquerda sobre um cinto amarelo, na altura da cintura, e na mão direita traz um cetro que termina por um ornamento esférico encimado por um cone. O peito do personagem está coberto por uma couraça. Cada um dos seus ombros está protegido por uma meia-lua, com rostos de expressão diferente.
Os cabelos do personagem são amarelos e seu olhar se encontra ligeiramente voltado para a esquerda, no mesmo sentido que o dos animais atrelados à carruagem.
Cinco plantas brotam do solo. Não aparecem rédeas ou qualquer outro meio de guiar o carro.
Significados simbólicos
Contemplação ativa, repouso. Vitória, triunfo.
O setenário sagrado, a realeza, o sacerdócio.
Magistério. Superioridade. Realização.
Interpretações usuais na cartomancia
Êxito legítimo, avanço merecido. Talento, dons, capacidade, aptidões postas em marcha. Tato para governar, diplomacia, direção competente.
Conciliação dos antagonismos, condução de forças divergentes. Progresso, mobilidade, viagens por terra.
Mental: As coisas se realizam, mas falta ainda montar as peças de conjunto.
Emocional: Afeto manifestado; protetor, serviçal.
Físico: Grande atividade, rapidez nas ações. Boa saúde, força, atividade intensa. Do ponto de vista do dinheiro: gastos ou ganhos, movimento de fundos.
Significa também notícia inesperada, conquista.
Pode ser interpretado igualmente como difusão da obra ou atividades do consulente através de palavras e, segundo sua localização na tiragem, significa elogios ou calúnias.
Sentido negativo: Ambições injustificadas, vanglória, megalo-mania.  Falta de talento e de consideração.  Governo  ilegítimo,
 
O Carro no tarô Gringonneur - retoques de CKR
O Carro no Tarô Gringonneur ou Charles VI (1368-1422)
situação usurpada, ditadura. Oportunismo perigoso. Preocupações, cansaço, atividade febril e sem repouso. Perda de controle.
História e iconografia
O desfile dos heróis triunfantes de pé sobre seus carros de guerra é um costume pelo menos tão antigo quanto os próprios carros de guerra. Court de Gébelin – e com ele os que acreditam numa origem egípcia do Tarô – imagina que o Arcano VII nada mais é que a reapresentação do Osíris triunfal, e que os cavalos são uma herança vulgar daEsfinge.
Mais coerente, contudo, é relacionr essa figura às apoteoses lendárias que comoveram a Idade Média, época em que se localiza sua iconografia.
Pode também lembrar um conto do ciclo mítico de Alexandre, o Grande, amplamente reproduzido desde a Antiguidade até o Renascimento.
Levado até o Oriente pela sucessão de seus triunfos, Alexandre teria chegado até o fim do mundo. Quis então saber se era verdade que a Terra e o Céu se tocavam num ponto comum. Para isto seduziu com ardis – é preciso recordar que a astúcia é também prerrogativa dos heróis – dois pássaros gigantes que existiam na região; prendeu-os e acomodou entre eles uma cesta.
Com uma lança na mão, em cujo extremo havia atravessado um pedaço de carne de cavalo, o conquistador subiu ao seu carro improvisado. Com a promessa de comida que oscilava diante de seus olhos, os Grifos começaram a mover-se e
 
Apolo e o Grifo
Apolo e o Grifo
www.mythesgrecs.fr.st
alçaram vôo. Os heróis não podem, contudo, sobrepor-se aos deuses: na metade do caminho Alexandre  recebeu  um emissário dos deuses, um enfurecido Homem Pássaro que insistiu para que ele desistisse de seu projeto. Muito a contragosto, Alexandre aceitou a censura e atirou a lança para a Terra, para onde desceram os Grifos, impacientes e vorazes.
Essa lenda, nascida certamente no Oriente, foi introduzida na Europa no fim do século II. Estendeu-se em seguida por todo o Ocidente cristão e era conhecida desde a baixa Idade Média. Numerosas ilustrações e várias esculturas que a representam chegaram até nós. A Crônica Mundial, de Rudolph von Ems (século XIII) a reproduz em uma detalhada miniatura; em São Marcos de Veneza está o relevo talvez mais significativo para rastrear as fontes inspiradoras do Arcano VII: a cesta de Alexandre é ali uma caixa semelhante à de O Carro; aparecem também as rodas esboçadas.
 
Elias no Carro de Fogo, tela de Giuseppe Angeli
Elias no Carro de Fogo (A visão de Ezequiel)
Tela de Giuseppe Angeli, 1712 - 1798
 
Durante a Idade Média, a arte dos imagiers parece ter-se servido desta lenda como uma alegoria do orgulho.
Por sua amplitude simbólica e pela beleza da sua composição, O Carro figura entre os arcanos de maior prestígio do Tarô. É, também, um dos que oferecem maiores lacunas de interpretação.
Relacionado em princípio com Zain (sétima letra do alfabeto hebreu, que corresponde ao nosso Z), denuncia uma mobilidade e inquietude que tem a ver com todo deslocamento ou ação ziguezagueante, veloz.
Por sua amplitude simbólica e pela beleza da sua composição, O Carro figura entre os arcanos de maior prestígio do Tarô. É, também, um dos que oferecem maiores lacunas de interpretação.
Relacionado em princípio com Zain (sétima letra do alfabeto hebreu, que corresponde ao nosso Z), representa uma mobilidade e inquietude que tem a ver com todo deslocamento ou ação ziguezagueante, veloz. 
Há autores que relacionam as rodas do Carro aos torvelinhos de fogo da visão de Ezequiel.
Quando se traduz a lâmina pela palavra carro – protótipo dos sistemas de troca – representa o que é móvel, transferível, interpretável. Nesse caso, seu aspecto oracular é associado às mudanças provocadas pela palavra: elogios, calúnias, difusão da obra, boas ou más notícias; e, por extensão, aos sistemas de intercâmbio em geral (economian movimento de fundos).
Aponta-se aqui a questão das relações entre esta mobilidade e o dinamismo mercurial do Prestidigitador, já que esses arcanos se encontram no início e no fechamento do primeiro setenário do Tarô.
Talvez esta analogia possa ser levada mais longe, e não parece impossível que a figura toda seja uma ilustração desta passagem bíblica. Em Ezequiel (I, 4-28), com efeito, aparecem não só as rodas, o carro e os animais, mas também “sobre o trono, no alto, uma figura semelhante a um homem  que  se  erguia sobre ele. E o que dele aparecia, da
 
"Currus Triumphalis", O Carro Triunfal da Alquimia
Currus Triumphalis
Amsterdã, 1671
cintura para cima, era como o fulgor de um metal resplandecente”, o que é uma descrição bem próxima do personagem do Arcano VII. Nessa mesma passagem podemos encontrar também analogias válidas para o simbolismo geral do Arcano XXI (O Mundo).
Há quem veja ainda, nos animais presos, uma anfisbena (serpente de duas cabeças), ou poderes antagônicos que é necessário subjugar para prosseguir  –  “assim como no caduceu se equilibram as duas serpentes contrárias”. O veículo representaria o simbolismo do Antimônio (ou a Alma Intelectual dos alquimistas), mencionado como Currus Triumphalis num tratado de Basílio Valentin (Amsterdã, 1671).
A totalidade do arcano sugere, para Wirth, a idéia do corpo sutil da alma, graças ao qual o espírito pode se manifestar no campo do material. Esta idéia de um halo ou dupla transubstancial que não pode ser relacionada a nenhum dos três aspectos do homem  (corpo –> alma –> espírito), mas que tende a relacioná-los entre si, gozou de um vasto prestígio esotérico: é o corpo sideral de Paracelso (ou astral, na linguagem teosófica), como também o “corpo aromático”, de Fourier, ou o Kama rupa do budismo soteriológico.
Siglas no escudo
As letras S e M no Carro do Tarô de Marselha-Grimaud
 
Finalmente, cabe examinar as letras inscritas no escudo – S e M– tal como aparecem no Tarô de Marselha da Editora Grimaud.
Alguns analistas supõem que sejam as iniciais de SuaMajestade, o rei vitorioso em seu regresso de batalhas que comandou. Outros acreditam, que as letras  S e M  representem os princípios alquímicos
Sulfur e Mercurius, antagônicos e complementares, tais como parecem reiterados pela disposição da parelha de cavalos que põe o carro em movimento.
O Carro no Jacques Vieville - 1650   O Carro no Tarot Jean Noblet - 1650   O Carro no Tarot Nicolas Convert - 1760   O Carro no Tarot Francois Tourcaty -  1800
O Carro em tarôs clássicos: sem letras no escudo da carruagem – Jacques Vieville (1650) – e com
letras IN no Jean Noblet (1650), VT no Nicolas Convert (1760) e FT no François Tourcaty (1800)
Ao observamos as gravuras antigas dos baralhos podemos constatar que existem evidências de que a inclusão de sílabas têm razões menos esotéricas do que alguns supõe. Há gravuras em que o escudo permanece vazio, mas em boa parte dos baralhos clássicos, o espaço é preenchido com letras variam de jogo para jogo, usualmente com as iniciais do proprietário da casa impressora, como exemplificam as cartas acima que circularam amplamente pela Europa. Algo semelhante se passa com a carta Dois de Ouros (veja), que traz uma faixa quase sempre preenchida com o nome dos editores.
Não é este, porém, o único ponto controverso do arcano que Éliphas Lévy chamou de “o mais belo e mais completo de todos que compõem a chave do Tarô”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário