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ESPELHO DA ALMA*LINGUAGEM DA LUZ

sábado, 7 de julho de 2012


Que o machismo impera desde os últimos milênios ninguém tem dúvida.
O que eu não sabia até meus 20 e poucos, e que vou compartilhar, é que as tais festas juninas,
que me disseram que tinham surgido do joão-joanina-junina, eram na realidade, festa de Juno.
Juno?!!! Quem és tu?
Eis que entro numa das minhas aulas de mitologia grega,
espetacularmente conduzida pelo grande Junito Brandão, e descubro que,
antes de João – o santo – sonhar em existir,
no dia 24 de junho quem era celebrada mesmo era deusa romana Juno. Ora veja. Uma mulher!
Que os católicos
e que o próprio São João
me dêem licença,
mas junho,
o sexto mês do ano,
foi criado em homenagem à Juno.
Isso mesmo!
Mulher de Júpiter e rainha das deusas romanas.
Criada muitos séculos antes do cristianismo.
Pobre de nós mulheres.
Já repararam que, excetuando Nossa Senhora,
que afinal por ser mãe de Deus,
goza o privilégio de várias festas,
os santos, heróis e gênios
são sempre os homens?
Pobre de Juno.
Teve que ceder seu dia de glória ao João
e ainda ter seu esquecimento decretado pela Igreja Católica,
que precisava banir os cultos pagãos.
Nisso, o brasileiro é esperto como ninguém. Inventou de ser “católico não praticante”.
Subversivo que só, concorda em comungar com Deus, mas não com as práticas, quase sempre questionáveis, da Igreja.
Até onde os pesquisadores sabem,
a tradição do dia 24 de junho era celebrar o solstício de verão
(lá pros lados de cima do equador)
– dia mais longo do ano e o único “sabbat” onde os participantes se atreviam
a fazer feitiços para espantar os demônios da má colheita. Mundo agrícola.
Sabbat?
Que troço é esse?
Coisa de bruxo, claro! Aliás, todo pagão, ou seja, todo não cristão, foi considerado bruxo.
Lembram? Inquisição. Não foi à toa que as bruxas/bruxos na fogueira foram queimados.
A fogueira, que servia de centro da roda de dança e alegria, virou centro do sacrifício e morte. Nem Joana escapou.
Os oito sabbats são celebrados a cada ano pelos bruxos e se originam nos antigos rituais que festejavam a passagem do
ano de acordo com as estações, épocas de colheita.
Os sabbats, também conhecidos como “A Roda do Ano”, fazem parte de quase todas as culturas no mundo.
Os quatro sabbats principais (ou grandes) correspondem ao antigo ano gaélico e são chamados de imbolc(candlemas), beltanelammas (lughnassad) e samhain.
Os quatro menores são: ostara (equinócio de primavera); litha (solstício de verão); mabon (equinócio do outono) e yule (solstício de inverno).
Querem saber as datas dos sabbats no hemisfério sul? É sempre ter uma agenda de festas em mãos!!!
Aí vão:
  • samhain – 1 de maio – Noite dos antepassados. Se ninguém te convidar para uma fogueira, aproveite e comemore o dia do trabalho!
  • yule – 21 a 23 de junho (solstício) – São João, São João, acende  a fogueira no meu coração!!!
  • imbolc - 30 de julho – Época de aragem e plantio. Na falta do que fazer veja se cabe uma festa julina.
  • ostara – 21 a 23 de setembro (equinócio) – Festa da Primavera, com direito à linda rosa juvenil.
  • beltane – 31 de outubro – Antes era um ritual de fertilidade, mas agora que tal um halloween? Ou All Hallow’s Eve ou Vigília de Todos os Santos.
  • litha – 21 a 23 de dezembro (solstício) – É Natal!!!!
  • lammas – 1 de fevereiro – Tá chegando o Carnaval!
  • mabon – 21 a 23 de março (equinócio) – Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim?
Gente, gente, leva tempo, mas as coisas mudam no mundo.
O negócio é que no século IV, a Igreja decidiu se apropriar da “data cheia” de 24 de junho e inventou que a origem das
fogueiras juninas estava relacionada com o nascimento de São João Batista.
A lenda, bonita e fraterna foi a de que Maria preocupou-se de que forma poderia saber da chegada do bebê de sua amiga Isabel, o João.
Isabel combinou que mandaria acender uma fogueira e erguer um mastro, com uma boneca sobre ele.
Foi assim que Juno sumiu e João começou a ser festejado com mastro, fogueira e danças.
Os pagãos foram forçados se converter ao catolicismo e a repressão das antigas crenças pagãs foi feita com, digamos, muita violência.
Os rituais de fertilidade que eram celebrados em volta da fogueira – com dança, comida e bebida – foram substituídos por
homenagens ao santo e a deusa Juno que abençoava a fertilidade e o nascimento dos bebês, ninguém nem ouve falar.
Alguns camponeses europeus ainda fabricam os “bebês da colheita”, como são chamadas pelos pagãos as pequenas
bonecas feitas com palha de milho trançadas, para simbolizar a deusa Juno – feitas para dar boa sorte e receber as bênçãos da deusa da colheita.
Quem se aproveitou mesmo da demonização das festas pagãs foi o cinema, que usou e abusou das fogueiras, milharais e bonecos de milho,em seus filmes de terror, para acabar de vez com todo o sentimento de agradecimento aos deuses e à terra pela boa colheita e com os rituais sensuais de fertilização. Se bem que lá no fundo no fundo, nada mais erótico do um bom forró regado ao quentão!
Até hoje, dos dias 21 a 24, diversos povos europeus guardam a tradição dos celtas, bascos, egípcios e sumérios.
Por exemplo: as cerimônias realizadas em cumberland, na escócia e na irlanda, na véspera de São João, em que se oferecem bolos ao sol e as crianças são passadas pela fumaça de fogueiras.
Uma espécie de defumador. Claro que hoje um incenso básico de sândalo resolve tudo.
Nem precisa mais cantar “pula fogueira iaiá, pula fogueira ioiô, cuidado para não se queimar…”.
Se bem, que música é a própria danação, gruda em nossa memória que nem visgo.
Foi assim que o povo registrou que casamento arranjado podia ser casamento falido, pois “com a filha de João, Antônio ia se casar, mas Pedro fugiu com a noiva na hora de ir pro altar…”
E ainda diz em verso, prosa e interpretação que o desejo e prática sexual vem
muito antes da aliança, pois os casamentos da roça caipira da festa junina tem mesmo
é uma noiva grávida com um pai de espingarda obrigando o cara a assumir
compromisso. Se bem que…
Não existe pecado do lado debaixo do Equador. Se a conversão das festas pagãs foi alvo de muita tortura lá pelas bandas da Europa, aqui no Brasil, os jesuítas se deram super bem. Quando chegaram com a idéia de fogueiras, rezas e muita alegria, a moçada das aldeias já tava pra lá de acostumada.
Foi só unir o útil ao agradável: continuar a cantar e dançar para celebrar a colheita dos roçados repletos de mandioca, cará, inhame, batata-doce, abóbora e abacaxi.
Traduzir a época de colheita do milho, do feijão e do amendoim para festa de São João foi fichinha. Com a miscigenação, a caboclada toda aderiu e Campina Grande, minha gente, é o que é!
As festas juninas são as guardiãs da tradição secular de dançar ao redor do fogo.
Ainda hoje, a fogueira é o traço comum que une todas as festas de São João européias:
Porto RicoAustrália e Brasil
– dá até vontade de fazer
uma viagem só para pular de fogueira em fogueira.
Daí para a quadrilha foi um triz?
Não!
O mundo é lento.
Leva mais que muitas vidas para inventar umas coisas boas de viver.
O pessoal só tem criatividade rápida para o que destrói e ajuda a conquistar territórios, riqueza e poder.
Três séculos depois da festa de São João chegar por aqui é que a classe média, sempre chegada à última moda de Paris, quis provar da “quadrille” e fundiu a contradança francesa com os ritmos brasileiros.
Foi um tal de navantur (em avant tout) – anarriê (em derrière) – balancê (balancer) – travessê de cavalheiros (travesser) – travessê de damas – travessê geral – granmuliné – otrefoá (autrefois),  changê de damas, changê de cavalheiros,  preparar para o granchê, começar o  retournê, começar o retirê  e c’est fini, que até hoje eu me confundo todinha.
Dancei quadrilha na escola. Muito mal. Queria ter dançado mais. Dancei forró na adolescência, muito pudica.
Devia ter batido mais as coxas. Nunca fui à Campina Grande, mas hei de ir com a Diana.
O que sei é que a fogueira precisa estar na minha vida todos os anos.
Inunda a minha alma, me encanta, hipnotiza.
Me faz sentir parte de um elemento precioso para a vida (luz e calor).
Sei mais: que a emoção que eu sentia quando via um balão subir ao céu até virar estrela eu nem posso descrever.
Não tinha a ver nem com São João, nem com bruxaria.
Era algo de comunhão, de ligação entre a terra e o ar, pelas mãos do homem.
Era como se presenciasse mais uma magia que transformava um nosso sonho em coisa divina.
Só por hoje eu brindo à deusa, mais do que ao João, repetindo sua oração:
espírito feminino sagrado do ar, virgem do fogo, bela e formosa, mãe terra, doadora de vidas, anciã da água,
sem idade e sábia, graciosa deusa do amor, da fertilidade e da vida. Com o sol no seu zênite eu realizo este ritual
do solstício em honra a ti, oh grande deusa.
E em teu sagrado nome eu agora dou graças.
Abençoada seja a deusa! Abençoada seja a deusa! A deusa vida. A deusa que faz girar a grande roda solar,
que muda as estações e traz nova vida para o mundo.
Abençoada seja a deusa! Abençoada seja a deusa! Ciclo das estações. Vida, morte, renascimento.
Dia, noite, escuridão e luz. Deusa de todas as coisas selvagens e livres.
Que ela nos abençoe o vinho, o pão, a festa e o amor. Saúde!

Sugestão musical: Música Celta com direito à sanfona e rabeca, ora! Briganthya.

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