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ESPELHO DA ALMA*LINGUAGEM DA LUZ

quarta-feira, 2 de março de 2011


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O MEDO DA MULHER...

"O CORPO FEMININO É O LABIRINTO ONDE O HOMEM SE PERDE"


“A PASSAGEM DO CULTO DA TERRA AO CULTO CELESTE DESLOCOU A MULHER PARA A ESFERA INFERIOR”*.

“É correcta a identificação mitológica entre a mulher e a natureza. O contributo masculino para a procriação é fugaz e momentâneo. A concepção resume-se a um ponto diminuto no tempo, apenas mais um dos nossos fálicos pico de acção, após o qual o macho, tornado inútil, se afasta. A mulher grávida é demonicamente (diamon), diabolicamente completa. Como entidade ontológica, ela não precisa de nada nem de ninguém. Eu defendo que a mulher grávida, que vive durante nove meses absorta na sua própria criação, representa o modelo de todo o solipsismo, e que a atribuição do narcisismo às mulheres é outro mito verdadeiro. A aliança masculina e o patriarcado foram os recursos a que o homem teve de deitar a mão a fim de lidar com o que sentia ser o terrível poder da mulher. O corpo feminino é um labirinto no qual o homem se perde. É um jardim murado, o hortus conclusus do pensamento medieval, no qual a natureza exerce a demónica feitiçaria. A mulher é o construtor primordial, o verdadeiro Primeiro Motor. Converte um jacto de matéria expelida na teia expansível de um ser sensível, que flutua unido ao serpentino cordão umbilical, essa trela com que ela prende o homem.”*

Percebo que tanto homens como mulheres se sintam incomodados por eu “defender” exaustivamente as mulheres e por isso me acusam de radicalismo, quando não de outra coisa qualquer. Tanto os homens como as mulheres reagem às minhas tomadas de posição e me acham exacerbada ou tendenciosa…O que eu queria porém esclarecer é que de facto eu não pretendo criar antagonismo nem divisão entre o homem e a mulher. Não é aí que está o cerne da questão. O meu trabalho nada tem a ver com oposição ou antagonismo em relação ao ser homem. Apenas trabalho com a consciência do ser mulher em si dado o afastamento da mulher comum da Mulher original, coisa que os próprios homens não podem entender à partida e naturalmente julgam-se injustiçados por aqui se defender as mulheres sem evocar os homens bons ou justos…os homens femininos… (curiosamente acho que a virilidade de um homem está mesmo no seu feminino integrado, o contrário disso são os machos que hoje em dia preferem machos a fêmeas).

Eu sou uma Mulher, feminino versus masculino integrados, mas é como mulher que reflicto e expresso o que sinto. Falo da natureza do ser Mulher. Não entendo como há mulheres a falar sobre a natureza dos homens nem como há homens a falar sobre a natureza das mulheres porque obviamente são naturezas distintas e reflectem aspectos da vida opostos ainda que complementares no caso de ambos os seres estarem em paridade interior digamos o que não acontece em geral.
O que acontece com a mulher, do meu ponto de vista e entendimento (e não com o homem) é que ela está dividida em dois aspectos de si – de um lado o maternal e do outro o erótico – e isso causou uma cisão na própria mulher que a divide em duas. Pretende-se que hoje essas diferenças não existam, mas é pura ficção. Será assim tão difícil o que estou a dizer sendo tão óbvio na nossa sociedade a existência das duas mulheres? Não é assim que vemos de um lado a pobre prostituta e a desgraçada, ou a mulher fatal e do outro lado a mulher honesta, séria e recatada, ainda hoje? …De onde vem essa divisão e essa distinção e essa separação; onde é que ela começa senão na cabeça dos homens que a projectaram nas mulheres considerando uma mulher boa e outra má e pecadora de acordo com os conceitos religiosos de quase todas as cosmogonias e o pecado (a sujidade da mulher associada ao sangue da vida… e não da morte) e toda essa inacreditável pregação milenar religiosa que sempre perseguiu as mulheres? É mentira que a Inquisição existiu? Que perseguiram e mataram milhares de mulheres em fogueiras os cristãos? Que a percentagem de mulheres e homens queimados faz a diferença abismal dos 90 por cento ou mais?
Eu não estou com isto a acicatar as mulheres contra os homens nem a culpá-los individualmente. É uma realidade histórica abafada tal como a Deusa Mãe o foi. Se os homens se sentem discriminados ou fora do texto, é porque não querem ver onde e como o mundo subjugou a mulher e a manipulou e ele próprio se sente ainda tão senhor de si mesmo que nem pensa ou olha os factos reais.

NO meu trabalho eu procuro apenas trazer à mulher uma consciência de si que ela não tem e que se perdeu nos confins do tempo dessa saga milenar de luta do homem contra a natureza e a mulher pelo medo de ser submerso pelas forças instintivas. Trata-se da consciência do seu ser em profundidade, a parte que a sociedade patriarcal de facto conseguiu suprimir e alienar na mulher tornando-a um ser metade de si mesma. Este aspecto que eu foco nada tem a ver com a dualidade na manifestação, mas numa cisão da mulher em si. Isso acontece porque a mulher na sociedade ocidental, pela força dos arquétipos da Virgem por um lado e da Pecadora por outro, está dividida em dois estereótipos ou mais que a dilacera e nem ela mesma tem consciência disso e é por essa razão que assistimos a tamanhas discrepâncias na sociedade em relação ao ser mulher e a própria mulher aceita submissamente toda essa divisão, julgando que ela é sempre a aceite…e não a rejeitada…ou a enjeitada, ela é sempre a senhora e a outra é que é a culpada.

Mas digamos que não há culpados nesta história mas sim responsáveis…e no caso específico do nosso mundo é o homem quem assumiu o controlo da natureza e da mulher a seu belo prazer e isso são só os factos históricos. O que está por detrás dessa história porém é algo muito mais atávico e que se baseia no medo da morte e na incógnita da vida e do mistério da Natureza que o homem não conhece e a qual a mulher está indissociavelmente ligada…

“Os ciclos da natureza são os ciclos da mulher. A feminidade biológica é uma sequência de retornos circulares, que começa e acaba no mesmo ponto. A centralidade da mulher confere-lhe uma identidade estável. Ela não tem que tornar-se, basta-lhe ser. A sua centralidade é um grande obstáculo para o homem, cuja busca de identidade é bloqueada pela mulher. Ele tem que se transformar num ser independente, isto é, libertar-se da mulher. Se o não fizer acabará simplesmente por cair em direcção a ela. A união com a mãe é o canto da sereia que assombra constantemente a nossa imaginação. Onde existiu inicialmente felicidade agora existe uma luta. As recordações da vida anterior à traumática separação do nascimento podem estar na origem das fantasias arcádicas acerca de uma idade de ouro perdida. A ideia ocidental da história como movimento propulsor em direcção ao futuro, um desígnio progressivo ou providencial que atinge o seu apogeu na revelação de um Segundo Advento, é uma formulação masculina. Não creio que alguma mulher pudesse ter concebido tal ideia, já que a mesma é uma estratégia de evasão em relação à própria natureza cíclica da mulher, na qual o homem teme ser aprisionado. A história evolutiva ou apocalíptica é uma espécie de lista de desejos masculinos que desemboca num final feliz, num fálico cume”*
A mulher como Mãe e Deusa foi detentora de um poder inexplicável que levou o homem a adorá-la tanto como a odiá-la. Sabemos que os místicos a adoram enquanto pura e imaculada nos altares do mundo mas à mulher real, a mulher sexual instintiva foi e é projectara nos infernos…rejeitada… Adoram e rezam à deusa virgem que concebe sem pecado, mas a mulher sua mãe…e a sua mulher proibiu-a de ter prazer e amar o seu corpo e se dar…e o pior, obrigou-a a vender-se….e ainda hoje é essa a realidade das mulheres embora a nível inconsciente e não só porque é mais que evidente a violência sobre as mulheres a nível sexual embora se diga o contrário.

Calhou na história da humanidade a Mulher ser o espelho da Natureza cíclica e ctónica, por isso obscura e temível, e por medo das forças incontroláveis da natureza, o ser homem reflectiu no ser mulher o seu desejo de controlar o que lhe escapava ao seu domínio procurando ter poder sobre a mulher e a Natureza ao mesmo tempo…E o que fez à Mulher fez à Natureza e vice-versa. E o que hoje vemos no mundo em termos do mal, prostituição, degradação, exploração e depredação do homem à natureza e a mulher é bem patente na fauna e na flora e nas crianças no mundo abandonadas à sua sorte e isso é algo de abominável…
Só não vê isso quem é cego.

O homem por medo da mulher e do seu próprio abismo – nascimento e morte - destruiu a vida e a natureza… Nada o salvará senão a descida ao Labirinto…
rlp
*In Personas Sexuais de Camille Paglia

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