DEIXEM AS MULHERES FALAR SOBRE SI PRÓPRIAS...
“Em Um Quarto Só para Si, Virgínia Woolf descreve satiricamente a sua perplexidade perante os volumosos catálogos da biblioteca do Museu Britânico: porque é que há tantos livros escritos por homens acerca das mulheres, pergunta-se ela, e nenhum escrito por mulheres acerca dos homens? A resposta a essa pergunta é que desde o começo dos tempos os homens se têm debatido com a ameaça do domínio feminino. Essa torrente de livros foi instigada não pela fraqueza das mulheres, mas pela sua força, a sua complexidade e impenetrabilidade, a sua omnipresença aterradora. Ainda não nasceu o homem, nem sequer Jesus, que não tenha sido tecido, a partir de uma pobre partícula de plasma e até se converter num ser consciente, no tear secreto do corpo feminino. Esse corpo é o berço e a fofa almofada do amor feminino, mas é também o cavalete de tortura da natureza.”* Camille Paglia
Muitas "espiritualidades" recentes (modistas) e novíssimos autores, procuram branquear a história e a realidade que é o apagamento global das qualidades intrínsecas das mulheres e lidar com a pseudo-emancipação destas como um dado garantido...para a "evolução" do ser humano como um todo, sem que a Mulher esteja na posse do seu mat(er)rimónio (não pat(er)rimónio), ou seja, da herança ancestral da linha matrilinear...que passa por uma consciência ontológica antes de mais. Uma ligação às suas raízes e a Terra. Que implica uma integração dos vários estereótipos em que ela foi dividida pelas religiões, vivendo ainda hoje completamente fragmentada ao nível da sua psique. Só quando a mulher deixar de viver alienada da sua natureza profunda (forças ctónicas, coração, útero sangue e ovários) poderá recuperar a sua verdadeira identidade e ser um ser autêntico na plena posse dos seus atributos. Até lá a mulher continua a ser o que o Homem e a "ciência" quer que ela seja...
Destaco hoje este aspecto aqui dada a recente intervenção de alguns espiritualistas nova vaga, ou mesmo de “clássicos” (cristãos gnósticos, rosa-cruzes ou teosóficos), esoteristas em geral, os que que de bom já têm considerarem a mulher uma igual…ou que lhes conferem um papel digno…de parceria e complementaridade, por certo os mais bem-intencionados, mas que não vêem ou não querem ver (não podem ver porque não lhes passa na pele…) que a mulher moderna está cindida em vários estereótipos, em consequência de uma religião secular misógina que a cindiu basicamente em dois "arquétipos" (a santa e a prostituta) e uma cultura apolínea que nega o ctónico e a natureza telúrica, e por isso ainda hoje ela vive fragmentada na sua natureza profunda e na sua psique, apesar de se julgar livre dentro desses estereótipos masculinos. Eles acham que eu estou mesmo a atrasar os processos de evolução espiritual de ambos os sexos, ao dizer que a mulher não está na posse nem consciente da sua natureza intrínseca profunda… Do mesmo modo as feministas em geral e as marxistas me acham demasiado espiritual e negam o lado sagrado da natureza e a sua ligação a ela, negam que a força da mulher está nos seus ovários, negam a sua intuição e o lado das forças instintivas em prol do seu lado racional e lógico.
A questão por mim focada nunca passou por deitar abaixo "os homens" nem defender as mulheres...como eles pensam, (falando em vitimização, opressão, ou de uma sexualidade versus maternidade etc.) mas sim a defesa da minha perspectiva da questão que assenta na minha experiência profunda e é bem outra, fora de qualquer contexto habitual...e a meu ver fundamental.
Há planos de vida e de consciência, um tangível...e outro subtil... A espiritualidade é do plano subtil digamo, o plano da energia, e a realidade concreta social e psíquica é do plano tangível, material. Reduzir o ser humano aos seus cinco sentido e à razão intelecto, é a redução do ser humano a um animal racional...E o ser humano é muito mais do que isso sendo que a mulher é o veiculo da transcendência, dando vida e amando a um outro nível. Mas só a Mulher na posse da sua plenitude tem acesso a essa transcendência-consciência e para isso ela tem primeiramente que se conhecer a fundo tanto no plano tangível como no psíquico…e ir para além dos dois...isto é essencial uma vez que a história e a sociedade patriarcal a afastou completamente de si e desse seu potencial quer da sua verdadeira natureza ao longo de séculos de perseguição e anulação.
Conhecer a natureza de um ser, no caso da mulher (tal como com o homem) significa nascer e ser mulher na pele... neste plano. Considero por fim que um homem não tem que falar da mulher nem a mulher do homem. Por isso penso que é a altura de serem as mulheres e falar delas...a escrever sobre elas...a filosofar sobre elas, a dizerem o que elas REALMENTE sentem e querem...
Era tempo de os homens ficarem lá a falar com os seus botões...ou a filosofar entre si sobre os Homens e o seu mundo e o seu deus, o que quiserem, toda a porcaria que fizeram e continuam a fazer em nome das suas ideologias, democracias e economias...mas não mais sobre as mulheres. Como são ou deixam de ser ou se são ou não são como deviam...
DEIXEM AS MULHERES FALAR SOBRE SI PRÓPRIAS...
É SÓ ISSO QUE EU RECLAMO...
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